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Decantadora

  • Foto do escritor: Quintal de Aruanda
    Quintal de Aruanda
  • 24 de jul. de 2018
  • 3 min de leitura

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Saravá Umbanda! Saravá Todas as forças!


Você está caminhando em uma mata fechada. No meio do nada. Por entre as árvores só alguns feixes de luz deixando tudo mais misterioso. É dia. Silêncio. O tempo ali passa diferente, mais lento, como a lembrança de um sonho, às vezes um pouco embaçada e em câmera lenta. Há um pássaro ou outro que canta longe. Uma energia que te cerca, que acolhe e proporciona, de uma certa maneira, a sensação de pertencimento.


Andando descalço, pisando entre folhas molhadas, você sente a brisa suave. Vê o balanço da copa das árvores, fazendo um bailar nas folhas e dando alguma melodia ao silêncio. Logo à frente você avista um lago. A água é turva e lodosa em alguns pontos. Devido ao reflexo da água parada, você vê apenas a superfície e não faz a mínima ideia do que está por baixo, se é fundo ou não, mas sabe que há vida ali.


...


Nanã tem o seu dia comemorado em 26 de julho, por causa disso lembramos e reverenciamos a ela hoje, sua cor lilás ou roxo. Ela carrega um Ibiri, objeto parecido com um cone, enfeitado com fitas, palha da costa e búzios, que é carregado por ela como se fosse um recém-nascido, a nova vida. Sua saudação é “Salubá Nanã”, com significado de “refugiamos em Nanã” ou “salve a senhora do poço da lama”.


Nanã! Uma força que vem do lodo. Junção dos mistérios da vida e da morte, é ao mesmo tempo o peso da sabedoria e a doçura da ancestralidade. A força que na experiência de vida e firmeza, cuida do lado mais puro e verdadeiro do ser: nossa essência.


Quantas vezes nós nos esquecemos de sermos simples e verdadeiros no amor? Nos apegamos em uma situação ilusória ali, um vício de conforto aqui, e montamos um quebra cabeça de nós mesmos, com peças fúteis, que na primeira volta mais intensa da vida, se desfaz em diversos pedaços.


Nanã é a força que junta os pedaços. Os nossos pedaços. Pois somos como vasos de barro na mão do oleiro, mas que por muitas vezes diante dos nossos problemas e dificuldades, lascamos ou quebramos. É com essa força capaz de reunir a vida e a morte que conseguimos juntar nossos cacos, entender o que é destruir para reconstruir, morrer para reviver, deixar o velho e buscar o novo.


Sua atuação decorre com a junção da doçura de Oxum, com a força dos ventos de Iansã e o cuidado de Iemanjá, dando espaço para a maturidade, a ligação das águas da vida entorno dos filhos, como mães destemidas e corajosas.


À essa força clamamos muitas vezes para que não sejamos engolidos por nossos medos, preconceitos, arrogância, prepotência e sentimentos que nos fazem menos dignos desse amor pela vida e pelo próximo, pois ela nos manterá saudáveis, propícios em pensamentos e atitudes para que os “vasos” se mantenham repletos da pura água da vida.


Ela nos permite o choro da reforma íntima, que lava os olhos nos fazendo enxergar nossos defeitos ao mesmo tempo que purifica a alma preparando o coração para o novo.


Senhora da ancestralidade, com passos lentos, mas firmes, busca nos cantos mais esquecidos e escuros de nós mesmos as nossas chagas para que possamos confrontá-las, quebra-las e com isso vencermos, dando os passos no caminho certo, construindo e revigorando o novo, sempre respeitando a essência do espírito.


...


Deitado embaixo de uma árvore, você fecha os olhos e respira fundo. Ao abri-los observa que está brotando um musgo no caule da árvore e que vai tomando conta dela lentamente. A árvore está morrendo. Olhando com mais atenção, vê que esse musgo brota em forma de renda e que apesar da consequência, é belo, é perfeito aquele tecer. A árvore secou. Você fecha os olhos novamente ainda com a imagem da renda se formando em sua mente, e pensa que isso pode ser encarado como uma metáfora para a vida, que vai se formando num tecer contínuo, rico em detalhes, alguns nós, mas que algum dia esse o fio será puxado, vai se romper e será preciso recomeçar. Abra os olhos. Veja! A árvore está brotando bem mais verde do que antes.


Para finalizar, o trecho de um texto da escritora Lya Luft, para refletirmos sobre mistério dessa energia e de tudo que nos cerca:


"Na natureza morrem árvores jovens, e velhas árvores tortas vivem muito além da última floração. Estamos mergulhados no mistério: isso torna a vida possível mesmo quando não a entendemos."


Salubá Nanã!


Por: Filhos do Quintal.


Obs.: Esse texto foi escrito juntando ideias soltas de três filhos do Quintal, na tentativa de descrever tamanha complexidade de energia. O que nos mostra que o processo evolutivo está sim ligado ao autoconhecimento, mas que não precisa ser realizado sozinho. O reflexo é coletivo.

 
 
 

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