Salve, meu Pai Ogum!
- Quintal de Aruanda
- 25 de abr. de 2019
- 4 min de leitura

Nossa Louvação do dia de hoje se refere ao orixá Ogum, para muitos, a força regente deste ano de 2019. Conhecido como o general da Umbanda, guerreiro de Aruanda, vencedor de demandas, dentre muitos outros nomes. Muito conhecido no Brasil, ele é sincretizado, ou seja, ele reúne elementos de sua religiosidade original e de maneira resumida, personifica, sintetiza, traveste de São Jorge, para que os escravos pudessem continuar a exercer sua crença, sem a reprimenda dos senhores do engenho. Sua data comemorativa é dia 23 de abril e sua cor representativa é o vermelho, para outras vertentes umbandistas o azul escuro e em alguns casos o verde. Representa a luta permanente com as nossas imperfeições (os dragões) como nossas emoções, atitudes e pensamentos inferiores que precisamos controlar, burilar e transformar.
Algumas das possíveis explicações para essa sincretização de Ogum com São Jorge se encontram na História do Brasil e suas guerras, dentre elas a do Paraguai, por exemplo, outras simplesmente na força dos negros em manterem a sua fé na época da escravidão. O sincretismo religioso, por muitas vezes, não é aceito por alguns líderes religiosos e, por vezes, Ogum é sincretizado com São Sebastião a depender do regionalismo. Muitos são os fatos históricos que podem influenciar a teologia deste orixá. Contudo, gostaria de convidá-los a considerar que, ao fim, o que importa mesmo é a fé.
Na antiga África, segundo o autor Omolubá, em seu livro “Orixás: os Mitos e a Religião na Vida Contemporânea”, o conhecimento sobre Ogum vem da tradição Yorubá, onde se retrata esse orixá como uma entidade pujante, esbelta, destemida, valente e belicosa por natureza. Ligado ao ofício da guerra, no seu lazer voltado à caça, e em qualquer tempo, artesão primoroso de armas, ligado aos metais. Sob a ótica de que, a Umbanda como uma religião monoteísta, acolhidos sob as graças de um deus único nomeado Zambi, Zambiapungo, Olorum, Pai Maior, Ser Superior, Tupã, Papai do Céu ou qualquer outra nomenclatura adotada, Ogum sempre estará presente em nossas vidas não como um deus, e sim como uma manifestação divina que abre e ordena os caminhos além de coordenar o equilíbrio entre a lei divina da ação e reação, onde cada força possui uma semelhante em sentido contrário.
Do livro “Gênese Divina da Umbanda Sagrada”, de Rubens Saraceni, podemos citar:
“Ogum é sinônimo de luz maior, ordenação divina e retidão em todos os sentidos. Ogum é a ordenação divina em si mesmo: ele ordena a fé, o amor, o conhecimento, a justiça, a evolução e a criação. Por isso está em todas as outras qualidades divinas. Ogum é a força que ordena a tudo e a todos, e tanto está presente na estrutura de um átomo como em qualquer parte do universo”.
A energia de Ogum chega até nós nos enchendo de grande otimismo, entusiasmo, firmeza e alegria. Ele favorece a ordem e disciplina nos relacionamentos, seja na família, trabalho ou relações sociais. Esta ordem também chega aos sentimentos e pensamentos. Quando estamos desequilibrados, fora da energia de Ogum, podemos nos sentir apáticos, sem capacidade de delimitarmos nossos limites, deixando a cargo de outros as resoluções sobre a nossa vida, temos dificuldade em dizer “não”, em nos impor, somos medrosos, ciumentos e teimosos, não conseguimos perdoar, alimentando ainda mais nosso egoísmo. Por outro lado, quando estamos no excesso da energia de Ogum, nos tornamos verdadeiros déspotas, tiranos, utilizando todos os meios possíveis afim de atingirmos nossos objetivos, sem nos importar com as consequências de nossos atos, falas e omissões. A partir do momento em que vibramos harmoniosamente dentro da energia de Ogum, passamos a transmitir sinceridade e franqueza, passamos a ser lideres amorosos, corajosos e decididos, sem medo de mudanças.
Não se deve fazer a associação de Ogum com a violência quando se fala que ele rege a guerra, pois no plano espiritual, a guerra mais difícil de ser conquistada é aquela que travamos sobre nós mesmos, contra nossas más tendências como o orgulho, prepotência, soberba, ganância, falsidades, egocentrismo, apego, ignorância e medo. Ele nos ensina o autoconhecimento, para que possamos viver sem máscaras, ultrapassando conflitos, mantendo nossas crenças e verdades, sem humilhar e sem sofrer. Ogum é o caminho que nos tira de um estado de inércia para a ação, enriquecendo nossa existência com novas experiências, novas oportunidades, novas portas e janelas que dão para novos direcionamentos, novas respostas que nos possibilitam a elevação para outros patamares, superando velhos posicionamentos diante da vida. É a vibração de Ogum que nos estimulará a sermos mais fortes, considerando em nossos caminhos os obstáculos para que possamos superá-los e tornando-nos cada vez melhores, sem esquecer que a busca pela melhora, crescimento e elevação espiritual é nossa tarefa.
Finalizo esse texto com um trecho da tão conhecida Oração a São Jorge:
“Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge. Para que meus inimigos, tendo pés, não me alcancem. Tendo mãos, não me peguem. Tendo olhos, não me vejam. E nem em pensamentos eles possam me fazer mal. Armas de fogo o meu corpo não alcançará. Facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar. Cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar”.
Ogunhê, meu Pai! Patakori Ogum! Salve, meu Pai Ogum!
Por: Um filho do Quintal.
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