Salve a Umbanda! Saravá Pretos Velhos!
- Quintal de Aruanda
- 13 de mai. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 24 de jul. de 2018

Certamente a primeira lembrança que você tenha da Umbanda, seja por meio de um Preto Velho. A palavra de sabedoria, o toque com carinho, o abraço carregado de axé que cura e acalma. Essas entidades nos ensinam com a voz mansa e passos lentos que o caminho espiritual se dá por meio da paciência, porque é na eternidade do tempo e na infinitude de Deus que todas as evoluções acontecem.
Quando recebi o convite para escrever esse texto, fiquei um dia inteiro pensando e espremendo alguma linha de raciocínio que pudesse me qualificar a descrever de maneira adequada essa ocasião. Meditei, pedi inspiração aos guias da Casa e aos que me acompanham nesse processo de evolução espiritual. Confesso, não tive êxito e achei que iria ficar devendo essa.
Hoje, quando acordei, me lembrei de algo que ouvi enquanto cambone desses Mestres da Alma: “Fio, essa coisa de data, dia certo para isso e para àquilo, é coisa de vocês encarnados. Não espere chegar uma data especial para dar destaque no que é importante todos os dias”.
Pois bem, como encarnados sabemos que o dia 13 de maio é importante, no desdobramento histórico do Brasil, é a data da Abolição da Escravatura. Na Umbanda é comemorado o dia dos Pretos Velhos, que representam o espírito de superação e transcendência de toda a tortura e sofrimento vividos no passado enquanto negros escravizados.
Nos dias de hoje, na atual conjuntura do sistema, o modelo de escravatura adotado no passado não existe mais, pelo menos não deveria, pois existem mecanismos que impedem tal prática. Mas ela realmente acabou?
Antes que falem: Mas irmão, você vai falar de política agora, no meio de um culto religioso?
Se fosse necessário eu falaria sim, mas minha abordagem diz mais a respeito do entendimento pessoal de cada um sobre as próprias atitudes e seus aspectos sociais. Então, não! Não é política. Eu acho.
Antes de entrar na questão, queria compartilhar um texto que gosto muito e acho bastante reflexivo para os apontamentos e entendimentos que, juntos, faremos no final.
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As Sete Lágrimas de um Preto Velho
Num cantinho de um terreiro, sentado num banquinho, pitando o seu cachimbo, um triste preto velho chorava. De seus olhos molhados, esquisitas lágrimas desciam-lhe pelas faces e não sei porque contei-as: Foram sete!
Na incontida vontade de saber aproximei-me e o interroguei:
_Fala, meu preto-velho, diz ao teu filho por que externas assim uma tão visível dor?
E ele, suavemente respondeu:
_Estás vendo esta multidão que entra e sai? As lágrimas contadas estão distribuídas a cada uma delas. A primeira, eu dei a estes indiferentes que aqui vem em busca de distração, para saírem ironizando aquilo que suas mentes ofuscadas não podem conceber. A segunda, a esses eternos duvidosos que acreditam, desacreditando, na expectativa de um milagre que seus próprios merecimentos negam. A terceira, distribui aos maus, aqueles que somente procuram a Umbanda, em busca de vingança, desejando sempre prejudicar a um seu semelhante. A quarta, aos frios e calculistas que sabem que existe uma força espiritual e procuram beneficiar-se dela de qualquer forma e não conhecem a palavra gratidão. A quinta, chega suave, tem o riso, o elogio da flor dos lábios, mas se olharem bem o seu semblante, verão escrito: Creio na Umbanda, nos teus caboclos e no teu Zambi, mas somente se vencerem o meu caso, ou me curarem disso ou daquilo. A sexta, eu dei aos fúteis que vão de Centro em Centro, não acreditando em nada, buscam aconchegos e conchavos e seus olhos revelam um interesse diferente. A sétima, filho. Notas como foi grande e como deslizou pesada? Foi a última lágrima, aquela que vive nos olhos de todos os Orixás. Fiz doação dessa aos médiuns vaidosos, que só aparecem no terreiro em dia de festa e faltam as doutrinas. Esquecem que existem tantos irmãos precisando de amparo material e espiritual. Assim, filho meu, foi para esses todos, que viste cair, uma a uma AS SETE LÁGRIMAS DE UM PRETO VELHO.
...
Voltando a questão: Quantas vezes nos sentimos reféns dos pensamentos negativos de nós mesmos e das coisas que nos cercam? Quantas vezes projetamos nas outras pessoas, de maneira arbitrária, as nossas vontades? Quantas vezes somos ásperos e duros com as palavras desprendidas só porque julgamos ter uma razão? Isso não seria uma forma de sincericídio? E a nossa teimosia em querer as coisas, quando nos tornamos obsessores em vida? A escravidão não é mais do corpo, agora ela é da mente e da alma. Pensemos mais a respeito.
Para finalizar, convido a todos para fecharem os olhos, em silêncio, voltando o pensamento para si mesmo, relembrar a primeira vez que foi atendido por um Preto Velho, seja ele do Quintal ou não. Relembre o que falou, o que escutou, sentiu e aprendeu. Sinta-se abraçado por essa energia.
Adorei as Almas!
Por: Um filho do Quintal.
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